nove de agosto

joão
2 min readAug 9, 2023

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Nove de agosto de dois mil e vinte três, três horas da tarde.

Fale.
É pelo desejo de ser amado, do encarar desprovido de lascívia. Embora sobre este não ser muito familiar, há de se procurar, o apetite deste presente desde o despertar de consciência, do trôpego e desleixado andar. Muito mais companheiro do ódio, do ressentimento, da amargura em que este mundo o moldou, pelo bem e pelo mal.
Ainda há, dentro desse receptáculo inócuo de bonança, um jovem mancebo que busca por este ideal — ele está reservado no mais distante e solitário espaço mental, dilacerado pela dor da perda e da ausência. Imagens em que a projeção se faz presente o afligem, profundamente, talvez afetando este jovem adormecido no fundo de seu córtex cerebral. Ele sonha com os mundos que lhe foram proporcionados através das telas — o corpo, as palavras ideais, tão frágeis quanto sua própria carne.

Desabafe.
Este delírio, tão mágico e próprio da sétima arte o domina por completo, ao ponto de lhe fazer reavivar algo que não existe — um microcosmos finito de duas horas e meia. Sentimentos humanos, espelhos de uma experiência concreta, factual, frutos da complexidade material: mesmo sendo tudo isso, eles são impossibilitados de serem objetivos. Por isso, a busca de algo que não existe se torna tão presente. É o sorriso singelo para uma companhia do outro lado d’um cômodo lotado — essa transparência, tão ardente sensação de segurança em um microcosmos neste mundo tão infinito. Não há possessão neste tipo de afirmação, nem qualquer tentação pela carne, apenas uma breve e confortável consolidação do vínculo simples, do que dói, mas é curado. Do que amarga para adocicar, apesar dos pesares.

Algo diz, no mais profundo âmago interno, que este tipo de sensação, de momento, de desejo e sonho nunca se concretizaram de fato. Por percepção pessoal: a contemplação deste tipo de relação em tempo algum foi sentida. Por isso o anseio pelo futuro — por respostas, por conclusões, elas sendo viscerais, tranquilas. Quaisquer sejam estas apresentadas e evidenciadas, por breves segundos, elas trarão quietude. A paz, sendo este estado permanente que é, nunca será alcançada.

Talvez o futuro reserve um destino compreensível, crível ao meu estado atual de madura natureza.

Ou eu só pense demais. E o amor esteja na porta. Pelo menos algo perto disso eu consigo sentir.

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joão

Tous ceux quit manquent se réfugient dans la réalité